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Juliano Loureiro • 10 de outubro de 2024

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Você já assistiu a um filme ou leu um livro em que os próprios personagens comentam sobre a história ou questionam a realidade em que estão? Ou quem sabe, viu um narrador que sabe que está contando uma história? Se sim, você já teve contato com a metanarrativa, um recurso literário fascinante que faz a gente refletir sobre a própria construção da narrativa.


Mas, afinal, o que é metanarrativa?


Neste post, vamos explorar esse conceito, entender como ele funciona e examinar exemplos práticos para deixar tudo mais claro. Se você é escritor ou apenas um amante da literatura, entender sobre metanarrativa pode abrir novas possibilidades criativas e tornar suas leituras ainda mais ricas. Vamos nessa?

O que é metanarrativa?

A metanarrativa é, basicamente, uma narrativa que está consciente de si mesma. Ou seja, é quando a história ou o narrador revela que está numa história, quebrando a "quarta parede" — aquele muro invisível entre os personagens e o público.


Esse tipo de recurso convida o leitor (ou espectador) a refletir sobre o próprio ato de narrar, sobre como as histórias são contadas, seus limites e suas regras. Em vez de mergulhar completamente na trama, a metanarrativa faz com que você se distancie e reflita sobre a construção da obra em si.

Como funciona a metanarrativa?

Na metanarrativa, o narrador ou os personagens fazem referência à própria construção da história, ou quebram a ilusão de que estão em uma realidade independente. Pode ser algo tão simples quanto um personagem mencionando que está em uma história, ou algo mais elaborado, como uma trama que reflete sobre a estrutura de narrativas em geral.

Um dos exemplos mais claros da metanarrativa é a quebra da quarta parede. Isso acontece quando os personagens de uma obra reconhecem a presença do público e falam diretamente com ele. Esse recurso, muito comum no teatro, também é utilizado no cinema, televisão e literatura.


Imagine um personagem de um filme virando para a câmera e dizendo: "Bem, isso está ficando confuso, né? Talvez devêssemos cortar essa cena." Aqui, o personagem sai da realidade da história para comentar sobre o processo de criação do filme.


Um exemplo famoso é a série House of Cards, em que o personagem principal, Frank Underwood, frequentemente fala diretamente com o público, dando sua perspectiva sobre a manipulação política que está conduzindo.

Narrados onisciente e autoconsciente

Outro uso da metanarrativa é por meio de narradores autoconscientes, que sabem que estão contando uma história. Eles podem comentar sobre a própria narrativa, expressar suas opiniões ou até mesmo tentar manipular a percepção do leitor.


Um exemplo disso é o livro "Se um Viajante numa Noite de Inverno" de Italo Calvino, que brinca constantemente com que o leitor está lendo um livro e até mesmo traz o próprio leitor como personagem da história.

Exemplos de metanarrativa na literatura

Agora que entendemos o conceito de metanarrativa, vamos explorar alguns exemplos literários que fazem uso desse recurso de maneira brilhante.

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Considerada uma das primeiras metanarrativas da história, Dom Quixote é um marco na literatura. Ao longo do romance, Cervantes usa o narrador para brincar com a própria narrativa, criando uma história que parece ter consciência de si mesma.


No segundo volume do livro, por exemplo, os personagens sabem da existência do primeiro volume, e até comentam sobre ele. Esse jogo entre o real e o ficcional é um exemplo clássico da metanarrativa.

2. Se um Viajante numa Noite de Inverno, de Italo Calvino

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Este romance de Italo Calvino é praticamente um estudo sobre metanarrativa. O livro começa com o narrador se dirigindo diretamente ao leitor, que logo descobre que ele mesmo (o leitor) se torna personagem da trama.


A história é interrompida repetidas vezes, e o leitor é convidado a refletir sobre o processo de leitura e a construção das histórias. É um exemplo clássico de metanarrativa que desafia as expectativas convencionais de narrativa linear.

3. O Grande Gatsby

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Em O Grande Gatsby, o narrador, Nick Carraway, age como um observador e crítico da história que está contando. Embora não seja uma metanarrativa no sentido mais tradicional, o fato de Nick refletir sobre os acontecimentos e discutir como eles são interpretados torna o livro uma espécie de narrativa consciente de si mesma.


Ele comenta sobre o modo como a história é construída e oferece uma visão pessoal sobre os eventos e personagens, o que adiciona uma camada metanarrativa ao romance.

Por que usar metanarrativa?

Mas por que escritores (e cineastas) escolhem usar metanarrativa? Há várias razões para isso, e aqui estão algumas das principais:

1. Reflexão sobre a criação literária

A metanarrativa permite que o escritor explore a própria ideia de contar histórias. Como as histórias são construídas? Quais são os limites entre ficção e realidade? Esse recurso permite uma investigação profunda sobre a natureza da narrativa.

2. Engajamento do leitor

Quando o leitor é chamado a participar ativamente da história, ele se torna mais envolvido com o processo de leitura. A metanarrativa pode criar uma conexão diferente com o leitor, convidando-o a refletir sobre o próprio ato de ler.

3. Humor e ironia

A metanarrativa muitas vezes cria espaço para o humor e a ironia. Quando os personagens ou narradores comentam sobre os clichês ou estruturas narrativas que estão utilizando, isso pode gerar momentos engraçados ou sarcásticos, especialmente se desafiar expectativas tradicionais.

4. Questionamento de verdades

Metanarrativas podem ser usadas para questionar verdades universais ou propor que a verdade é relativa. Quando um livro ou filme comenta sobre sua própria ficcionalidade, ele também está sugerindo que a realidade pode ser igualmente questionável.

Como usar metanarrativa na sua escrita?

Se você é escritor e quer experimentar a metanarrativa, há algumas formas de integrá-la à sua história:


  • Narradores autoconscientes: crie um narrador que saiba que está contando uma história e que se comunique diretamente com o leitor.
  • Personagens cientes de sua ficção: faça com que os personagens percebam que estão em uma história e comentem sobre isso.
  • Brincadeiras com a estrutura: desafie a estrutura convencional da narrativa, interrompendo a história para discutir sobre a própria narrativa.

Conclusão

A metanarrativa é um recurso poderoso e criativo que pode adicionar profundidade, reflexão e até humor a uma obra literária. Seja para questionar os limites da ficção, refletir sobre a criação literária ou simplesmente surpreender o leitor, esse recurso abre portas para novas formas de contar histórias.


Então, da próxima vez que você estiver escrevendo ou lendo um livro, fique atento: talvez a história esteja falando mais sobre si mesma do que parece!

Um homem com tatuagens senta-se à mesa com lucas remando livros

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


Para aprender mais sobre escrita criativa, confira meu canal no Youtube, vídeos diários para você. CLIQUE AQUI e confira.

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