Quando falamos em distopia, você já imagina aquele cenário de fim de guerra, o mundo acabou, um sobrevivente está perambulando por terras devastadas. Ou então, em um futuro distante, o mundo está totalmente diferente, as regras são outras e as leis ainda mais confusas?
Com certeza, você tem em mente alguns livros sobre distopia quando o assunto revisita, não é mesmo? Provavelmente
Laranja Mecânica,
1984,
A Revolução dos Bichos,
Fahrenheit 451 passam pela sua cabeça. Os mais jovens ainda vão levantar sugestões de livros juvenis sobre distopia, talvez o mais lembrado seja
Jogos Vorazes e sua série.
O que não faltam são grandes obras, romances sobre distopia. Mas, essas citadas dispensam apresentações. Você pode não ter lido, mas com certeza, já ouviu falar e até mesmo já sabe a história desses livros, por isso, neste post, quero falar sobre livros “menos famosos”, que, provavelmente, você não conhece ou conhece “só de nome”.
Antes, me permitam fazer uma breve introdução sobre o conceito de distopia e o levantar alguns questionamentos para você pensar!
O que é distopia e o porquê do seu sucesso
A distopia é uma categoria literária que tem um grande público e de uns 10 anos - ou pouco mais - parece ter crescido na preferência dos leitores, sejam eles jovens ou adultos. Mas o que faz cair no gosto popular?
Não é demérito classificar a distopia como oriundo de outro, ainda mais quando estamos falando de
ficção científica, estilo literário com um dos maiores públicos consumidores e, talvez, maior número de adaptações para outras artes, como séries e filmes.
Na introdução do texto, eu já abordei algumas das características principais da distopia, sendo:
- uma história em um
cenário futurístico, catastrófico;
- a
catástrofe pode ser por diversos fatores: guerras (civis ou internacionais), catástrofes ambientais etc;
- personagem sobrevivente e/ou revolucionário.
Até esse ponto, são características bem marcantes da distopia, mas também são os mais perceptíveis, afinal saber quem é o personagem principal da trama e onde ela ocorre é básico para compreensão de qualquer história.
O que muita gente, às vezes, não se dá conta é haver outra característica tão - ou mais - importante nos livros sobre distopia, o qual é a existência de um governo ou organização civil totalmente autoritária, a qual destrói qualquer possibilidade de uma vida digna para a população.
Às vezes o leitor se prende tanto às ações do personagem que não percebe que a luta não é contra um vilão, mas sim contra um sistema totalitário, ditatorial mesmo! E esses governos ascendem ao poder após algum dos eventos catastróficos que citei.
E atenção,
não necessariamente a catástrofe é uma bomba nuclear, uma guerra de magnitude planetária. Eventos menores - é até engraçado falar assim - como guerras civis, pandemias (evite aglomerações!), colapsos naturais são propensos para ‘destruir’ uma sociedade, um país, o planeta.
Com tudo devastado, a gente se apega a qualquer promessa de recuperação de uma vida digna, não é mesmo? É assim que surgem os “salvadores” da pátria e seus grupos, com promessas mirabolantes para reconstruir e tornar melhor do que já era. Mas, para isso, atitudes drásticas são necessárias e, como não se tem nada ao que nos apegarmos, aceitamos. E aí se instauram os governos totalitários.
É interessante perceber que, em um primeiro momento,
a distopia parece ser o extremo oposto da utopia, que seria uma condição perfeita de vida. Porém, acredito que esses conceitos não são tão antagônicos como aparentam. Pensem comigo:
A distopia tem um governo autoritário, quem está no poder, com certeza, está vivendo um sonho de poder extremo, de superioridade, ou seja, está vivendo a vida que sempre sonhou. É como se a distopia fosse a utopia do governante!
Agora, chega de divagar sobre os conceitos e porquês, fica aí uma inquietação para você sobre distopia e utopia, que podemos voltar a debater em outro momento. Vamos aos livros sobre distopia que fogem das listas populares e que, talvez, você ainda não conheça.
Características de uma distopia
Um livro de distopia apresenta geralmente as seguintes características:
- Ambiente Futurista ou Alternativo: Muitas distopias são ambientadas em um futuro onde a sociedade sofreu transformações drásticas devido a fatores como guerra, colapso ambiental, revoluções tecnológicas, ou pandemias.
- Governo Totalitário ou Opressivo: Uma característica central das distopias é a existência de um governo ou sistema de poder que exerce controle excessivo sobre a população. Este controle pode ser político, tecnológico, corporativo ou ideológico.
- Perda de Liberdades Individuais: Em um mundo distópico, os direitos e liberdades individuais são frequentemente suprimidos ou severamente restringidos. A vigilância constante, a censura e a manipulação da informação são comuns.
- Resistência ou Conformidade: Os personagens principais podem se conformar com as regras do mundo distópico ou podem fazer parte de um movimento de resistência. O conflito entre a conformidade e a resistência é um tema recorrente.
- Crítica Social e Política: Os livros de distopia muitas vezes refletem e criticam aspectos da sociedade atual, como desigualdades sociais, abusos de poder, a erosão dos direitos civis, ou os perigos da tecnologia descontrolada.
- Ambiente Sombrio e Opressivo: O cenário e o tom de uma obra distópica são frequentemente sombrios, refletindo a opressão e a desesperança que caracterizam a sociedade retratada.
- Elementos de Ficção Científica: Embora nem todas as distopias sejam ficções científicas, muitas incorporam elementos do gênero, como avanços tecnológicos, inteligência artificial, ou viagens espaciais.
- Enredo Centrado em Conflitos Sociais e Éticos: Os enredos das distopias frequentemente exploram dilemas morais e éticos relacionados ao controle, à liberdade, à identidade e à natureza humana.
Exemplos clássicos de livros distópicos incluem "1984" de George Orwell, "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley e "Fahrenheit 451" de
Ray Bradbury. Estas obras exploram diferentes aspectos de sociedades futuras onde aspectos negativos foram levados a extremos.
8 livros sobre distopia que você ainda não conhece
Peço desculpas de antemão por começar a lista com uma obra que não é tão desconhecida, mas é necessária ser trazida pelo fato de ser uma das referências para o gênero e, inclusive, apontada por muitos como a pedra fundamental das distopias!
1 - Nós (Ievguêni Zamiátin)
Nós, além de ser considerada o marco inicial da distopia futurística, tem uma história de publicação que merece ser contada. A obra russa foi escrita em 1920 - em inglês -, publicada somente em 1924. Até aí, nada de mais. Porém, o autoritarismo de um governo não estava apenas nas páginas do livro.
Por ser escrita em inglês, o livro distópico de Zamiátin não foi publicado na União Soviética, somente em 1988,
Nós ‘chegou’ na Rússia, país de origem do autor.
A história precursora da literatura distópica traz o personagem principal, um cientista, vivendo em um país em que o governo proíbe o livre arbítrio, regulando até mesmo as horas de refeição e lazer da sua população.
Obras como
Admirável Mundo Novo
e
1984 foram influenciados pela obra de Ievguêni Zamiátin. Apesar de
Nós
ser considerado o ponto de partida para a distopia, existem obras que podem ser consideradas pré-distopia e que merecem a sua leitura:
Paris no Século 20 (1863), de Júlio Verne,
A Máquina do Tempo (1895), de H.G. Wells,
A Máquina Parou (1909), de E.M. Forster,
O Tacão de Ferro (1908), de Jack London e
A Morte da Terra (1910), de J.H. Rosny Aîné.
Agora que você já sabe onde tudo começou (e até o que o antecedeu), que tal conhecer outras obras da distopia literária?
2 - A Rainha Vermelha (Victoria Aveyard)
Se você acha que distopia deve ser exclusivamente tramas densas, com enredo puramente de aventura, suspense, guerra, pode rever seus conceitos. Os jovens também encontraram seu espaço nesse gênero e, temos em
A Rainha Vermelha e toda série que segue, livros de distopia juvenil, em que há um certo toque de magia.
Talvez o enredo da história não seja uma novidade, Victoria Aveyard conta a história de Mare, uma jovem humilde - da casta Vermelha - que se “mistura” com os prateados, a elite da sociedade. Liderando um grupo de resistência contra a Rainha, Mare vai descobrir muitas coisas sobre o governo, a sociedade e sobre alguns poderes que ela possui.
Temos em
A Rainha Vermelha uma mescla de
literatura YA com distopia, que resulta em uma boa história com magia, críticas sociais e funciona como uma belíssima introdução ao mundo da distopia para jovens leitores.
3 - Kallocaína (Karin Boye)
Imagine se um dia inventassem um soro da verdade e esse “remédio” caísse nas mãos de um governo totalmente autoritário e ditatorial? Essa é a história de
Kallocaína, a obra da escritora sueca Karin Boye. Curiosidade triste sobre a autora: ela se matou, um ano após a publicação do livro. Dizem que o suicídio deu-se por conta da investida nazista no território europeu.
Kallocaína é o nome da droga da verdade, criada pelo químico Leo Kall, que trabalha para o Estado Mundial, o governo ditatorial no poder. O químico criou o tal soro, na cadeia e, por lá mesmo, fazia os testes em cobaias humanas, obviamente, a contra gosto. Porém, a coisa fica tensa quando o soro da verdade cai nas mãos da polícia, que passa a fazer uso como lhe convém.
4 - A Guimba (Will Self)
O que há por trás dos paraísos? Basta uma guimba de cigarro para que a fantasia se queime e você mergulhe em um cenário político caótico, repleto de rituais sinistros, violentos e com muita subjugação.
Esse é um resumo do que acontece em
Guimba, uma obra distópica satírica, que mexe bem na ferida da moral política, principalmente nas moralidades que usam o 11 de setembro como pretexto para algumas decisões um tanto quanto insustentáveis.
Will Self ambienta sua distopia em um país imaginário, uma mistura das belezas naturais de uma Austrália com o regimento político do Iraque. Mas, mesmo assim, o país é uma atração turística, mas que é pano para bastidores sombrios, descobertos da pior maneira pelo protagonista Tom Brodzinski.
5 - Feios (Scott Westerfeld)
Mais um pouco de literatura
Young Adult
distópica. E, mais uma vez, uma série, que se inicia em
Feios.
Nessa literatura juvenil, temos um exemplo para ilustrar quando eu me referia aos cenários catastróficos não somente como cenários pós-guerra. Na obra de Scott Westerfed, o futuro é pós-apocalipse ecológico.
E, não bastasse as cidades crescerem em bolhas cercadas por florestas, a parte mais curiosa dessa distopia é a obrigatoriedade dos jovens serem submetidos a uma cirurgia plástica, para ficarem perfeitos esteticamente falando, ao completarem 16 anos.
É nessa sociedade paranóica que os personagens principais vão se rebelar e fugir para as florestas que os cercam, lutar contra a falsa perfeição dos seus mundos e seus governos tiranos.
Se eu te falasse que, em 1993 e 1998, alguém publicou uma obra de distopia, na qual um dos governantes tiranos utiliza-se do slogan
“tornar a América grande novamente”, você acreditaria em coincidência? Para ficar ainda mais estranha, a história se passa em 2020.
A obra de distopia,
A Parábola do Semeador,
publicada em 1993 é a primeira parte de uma duologia, que conta ainda com
A Parábola dos Talentos, de 1998. Octavia Butler conta-nos uma história com detalhes curiosos, como por exemplo, a empatia ser vista como doença no futuro distópico.
Na trama, além da doença, a poluição e as constantes mudanças climáticas estão acabando com as vidas nas cidades. E para piorar o que já estava ruim, ascende ao poder um grupo político composto por supremacistas brancos e fanáticos religiosos.
7 - Não me Abandone Jamais (Kazuo Ishiguro)
Imagine você trabalhar por anos e anos como “cuidadora” e, ao chegar o momento de se aposentar, perceber que toda sua história de vida foi uma farsa!
Kathy H, tem 31 anos e passou por muitos anos em um internato que parecia um pedaço do paraíso na terra, com atividades artísticas e belezas naturais. Mas, tudo isso era uma fachada sombria. Os alunos desse internato eram todos clones, criados com a única pretensão de crescerem e ‘doarem’ todos seus órgãos até a morte, como se fossem peças de reposição.
Antes de encerrar as minhas dicas, guardei para o final uma recomendação muito bacana, espero que você goste. A última dica é um livro de distopia ainda em construção, então você pode acompanhar o desenrolar da história, praticamente em tempo real.
Então, vou encerrar a lista de hoje com uma dica-convite, para você conhecer a minha distopia!
8 - Lucas: a Esperança do Último (Juliano Loureiro)
É claro que não poderia faltar uma distopia nacional, não é mesmo? Então, se a distopia está em alta, quero chamar você para fazer parte dessa história.
Em
Lucas, eu conto a história do personagem e seu gato Félix, únicos moradores sobreviventes (será?) da cidade de Nova Del Rey. Os dois passaram pela Grande Extinção, que dizimou 98% da população mundial.
Escondidos e sem esperança que algo aconteça em Nova Del Rey, Lucas decide abandonar o esconderijo e partir para Rio108, onde, supostamente, há mais sobreviventes e uma certa organização social. Mas, será que é válido arriscar a vida em busca do desconhecido?
A resposta, só quando o livro estiver completo, enquanto isso, reforço o convite de leitura.
Lucas: a esperança do
último é o meu romance distópico que estou produzindo por meio de um projeto de financiamento coletivo. Para que você conheça um pouco sobre a história de um futuro sombrio, onde apenas 2% da população está viva, disponibilizei os três primeiros capítulos para leitura!
Título Novo
As distopias são extremamente relevantes atualmente por várias razões:
- Reflexão Crítica Sobre a Sociedade Atual: Distopias oferecem uma lente através da qual podemos examinar e questionar aspectos problemáticos do nosso mundo. Elas nos desafiam a pensar sobre questões como vigilância governamental, controle da informação, desigualdades sociais e econômicas, e o impacto da tecnologia na sociedade.
- Alerta Sobre Futuros Possíveis: Ao retratar futuros sombrios, as distopias funcionam como advertências sobre o que poderia acontecer se certas tendências negativas na sociedade atual não forem abordadas. Elas nos incentivam a considerar as consequências a longo prazo de nossas ações e decisões coletivas.
- Estímulo ao Pensamento Crítico: Livros e filmes distópicos frequentemente apresentam enredos complexos e personagens multifacetados que desafiam o leitor ou espectador a pensar criticamente sobre moralidade, poder, liberdade individual e responsabilidade social.
- Inspiração para Mudanças Positivas: Ao apresentarem visões de mundos onde as coisas deram errado, as distopias podem motivar as pessoas a se envolverem mais ativamente na sociedade para evitar tais futuros. Isso pode levar a um maior engajamento em questões políticas, ambientais e sociais.
- Resonância com Questões Contemporâneas: Muitas vezes, as distopias abordam questões que são imediatamente relevantes para o público contemporâneo, como mudanças climáticas, fake news, erosão de direitos civis e privacidade, e a ascensão de regimes autoritários.
- Exploração de Dilemas Éticos e Morais: As distopias frequentemente nos colocam frente a dilemas éticos e morais difíceis, forçando-nos a pensar sobre o que valorizamos como indivíduos e como sociedade.
- Ampliação da Consciência Social: Através da representação de sociedades distópicas, essas obras expandem nossa consciência sobre questões sociais, políticas e ambientais, contribuindo para uma maior consciência e compreensão das complexidades do mundo.
Em resumo, as distopias são não apenas formas de entretenimento, mas também poderosas ferramentas de reflexão social e política, que nos ajudam a entender e questionar o mundo ao nosso redor e a contemplar os caminhos que podemos tomar no futuro.