A literatura é uma arte comumente associada a outras
expressões artísticas e, tenho certeza, que você sabe qual é aquela que mais faz parceria com os livros. Se você falou o cinema, errou. A música é parceira das antigas da literatura, são praticamente carne e unha.
Para você ter ideia, o gênero lírico, lá da Grécia Antiga, tem esse nome porque os versos declamados eram acompanhados pelo som da lira. Essa história eu já contei, aqui no blog, em um texto sobre
Gêneros Literários.
E a parceria entre as duas artes não ficou no passado, muito pelo contrário, literatura e música andam tão juntas que fica difícil encontrar artistas que se dedicam exclusivamente a uma delas, sem arriscar pela outra ou ter a sua arte transformada em música ou impressa em livros, por outros artistas.
Autores que são músicos ou músicos escritores? Música que vira livro ou história que é musicalizada? Você vai ver, agora, como essas artes estão tão interligadas que, por várias vezes, você consumiu essa “arte híbrida” sem saber.
Músicas inspiradas em livros e seus autores
Vamos começar com os músicos homenageando seus autores favoritos, as histórias mais famosas ou, até mesmo, cantando a literatura como toda.
Língua, do Caetano Veloso
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?”
Esse é um trecho da música cantada por Veloso. Preciso dizer algo mais? Eu deixo para o próprio Caetano:
Don't Stand So Close to Me, do The Police
Um dos grandes clássicos de Sting e companhia, quem diria, foi inspirado na obra
Lolita, de Vladimir Nabokov. A mais famosa história da relação conflituosa entre professor e aluna, envolvendo amor, tabu e desejos foi transformada nessa canção vencedora do Grammy de Melhor Performance de Rock, em 82.
Detalhe ainda mais curioso é que Sting, antes da fama, era professor, o que levantou a hipótese da música ser autobiográfica. E é claro que o cantor negou.
“Her friends are so jealous
You know how bad girls get
Sometimes it's not so easy
To be the teacher's pet”
Relembre o grande clássico do The Police:
Dom Quixote, dos Engenheiros do Hawaii
Humberto Gessinger é um dos compositores do rock nacional mais aficionado à literatura e isso é evidente em suas composições musicais e letras. E uma das maiores obras literárias do mundo, não poderia ficar de fora do setlist dos Engenheiros.
Dom Quixote, o cavaleiro andante que nos seus devaneios luta contra os moinhos de vento, em parceria com Sancho Pança era tão bonzinho que era feito de “otário”, como cantou Humberto:
“Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos, mas sempre no horário
(...)
Por amor às causas perdidas
Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas”
Dom Quixote pode até não ter tido uma batalha real, mas a homenagem é justíssima:
1984, de David Bowie
Aqui, um caso de gênio inspirando gênio, pois são inquestionáveis as influências de George Orwell e David Bowie na literatura e na música. Inclusive, figuram em algumas listas como os maiorais de suas vertentes artísticas.
E, apesar da faixa homônima ao livro, a influência de Orwell vai além. A música 1984 é apenas uma das faixas do álbum
Diamond Dogs, de Bowie, totalmente dedicado à obra de Orwell e que, a princípio, foi feito para ser uma peça teatral totalmente dedicada ao livro 1984. Porém, a mulher de Orwell não concedeu os direitos sobre o livro.
A faixa em questão, fala sobre o tópico principal do livro, a manipulação da sociedade pelas mídias:
“Someday they won't let you
now you must agree
The times they are a-telling
and the changing isn't free
You've read it in the tea leaves
and the tracks are on tv
Beware the savage jaw
Of 1984”
Não deixe de conferir a performance do camaleão do rock:
Misty Mountain Hop , de Led Zeppelin
Uma das maiores bandas de rock de todos os tempos cantando sobre uma das maiores obras da literatura. As montanhas Misty, ou Montanhas Nebulosas, dizem alguma coisa para você? A viagem psicodélica de Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham só é comparada à saga fantástica de J. R. R. Tolkien e seu
O Hobbit.
Misty Mountain é uma das faixas do disco clássico IV e conta a história maluca de um passeio pelo parque, a caminho das montanhas Misty e um guarda. Mas, como toda boa saga, a história ainda está presente nas músicas
The Battle of Evermore, também do álbum IV e
Ramble On, do disco II.
So I'm packing my bags
for the Misty Mountains
Where the spirits go now,
Over the hills where the spirits fly, ooh.
I really don't know
Confira o clássico do Led em homenagem a Tolkien:
To Tame a Land, do Iron Maiden
Contrariando quem ainda tem um estereótipo errôneo sobre o rock pesado, o heavy metal é uma das principais vertentes da música a beber da fonte da literatura para suas composições. E um de seus maiores representantes, o Iron Maiden, foi buscar em
Duna, de Frank Patrick, referências para a canção To Tame a Land.
E as referências a uma das mais importantes ficção científica de todos os tempos são evidentes na letra:
He is the king of all the land
In the Kingdom of the sands
Of a time tomorrow
He rules the sandworms and the Fremen
(....)
In the land called planet Dune
Body water is your life
And without it you would die
In the deserted planet Dune
(...)
In a world called Arrakis
It is a land that's rich in spice
The sandriders and the mice
That they call the Muad'Dib
He is the Kwisatz Haderach
He is born of Caladan
And will take the Gom Jabbar
Ficou curioso em ouvir essa homenagem? Confira:
Monte Castelo, da Legião Urbana
Camões e a Bíblia na voz de Renato Russo. Assim podemos definir
Monte Castelo, uma das mais famosas canções da Legião Urbana.
Talvez, uma das mais conhecidas, exatamente por você já ter ouvido seus versos, nas suas versões originais, porque a canção de Renato Russo é basicamente um recorte de um trecho bíblico e do poema O Amor é Fogo, do poeta português Luís Vaz de Camões.
Ainda que eu falasse a língua do homens
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
A versão cantada de Camões e da Bíblia, na voz de Renato Russo você pode conferir, aqui:
Agora que você já viu
uma das maneiras como a música e a literatura se juntam, que tal você me ajudar a ampliar essa lista? Deixe um comentário com alguma canção baseada em livro ou história, que eu não citei.
Enquanto você pensa, quero fazer um convite especial. Quero lhe apresentar o meu livro
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