Você seria capaz de nos dizer o que seria das artes cênicas sem a literatura? Livro e teatro são coisas totalmente díspares ou complementares? A verdade é que as histórias de ambas as artes andam lado a lado, uma impulsionando a outra e, ao menos para mim, uma não vive sem a outra.
A origem do teatro ainda é incerta, o que sabemos - e faz todo sentido - é que ela é tão antiga quanto o hábito do homem contar histórias e que possa ter surgido na dança e nos jogos de imitação. E, coincidência ou não, o seu
boom foi lá na Grécia Antiga, local onde os
gêneros literários também foram moldados. Com certeza, você já ouviu falar das tragédias gregas, não é mesmo? Além da comédia, também já presente nos primórdios teatrais.
Teatro e literatura, artes cênicas e livros, duas
manifestações artísticas nascidas em um mesmo berço, só poderiam se influenciar. Então, hoje, apresento algumas peças de teatro inspirados em obras literárias.
Prepare-se para viajar pelo mundo mágico do teatro e da literatura. Boa leitura.
Cats
Cats é, talvez, o musical mais famoso de todos os tempos. Mesmo que você não tenha tido a oportunidade de assistir à peça, com certeza conhece suas referências.
Mas o que poucos sabem é a sua curiosa origem.
Cats
não é baseado em um livro qualquer, mas em
Old Possum’s Book of Practical Cats, escrito por T. S.Eliot nos anos 20 e publicado em 1939. E o que isso tem de curioso? Talvez o fato da obra de Eliot ser um livro infantil composto por 15 poemas. A adaptação teatral baseia-se em 14 dessas histórias.
A estreia do musical foi no ano de 1981 e, até hoje, já foi traduzido para mais de dez línguas, apresentado em mais de vinte países e coleciona mais de trinta prêmios, incluindo sete Tony Awards, o grande prêmio do teatro.
Eliot utiliza os gatos como personagens principais, porém a narrativa é uma clara metáfora à sociedade preocupada apenas com bens materiais.
Amar, verbo intransitivo
Um marco da literatura nacional, por ser considerado o primeiro romance do modernista
Mário de Andrade,
Amar, verbo intransitivo ganhou notoriedade nos palcos com a adaptação de Luciana Carnieli e Dagoberto Feliz.
A obra de Mário de Andrade ambienta-se numa sociedade patriarcal e burguesa paulista, nos anos 20. Elza é uma governanta alemã contratada por uma família, exclusivamente para trabalhar na iniciação sexual do herdeiro paulista. Mas é claro que a história não fica só nisso. Nessa relação há um terceiro elemento, uma paixão de Elza que ficou na Alemanha, mas há também o trabalho a ser feito.
Misery
Essa é uma adaptação surpreendente para muitas pessoas, porque estamos falando de um versão cênica para uma das obras do Mestre do Terror,
Stephen King. Sim, o terror também chegou aos palcos, incluindo a Broadway.
Misery é a história de Paul Sheldon, um autor famoso por uma série de livros protagonizada por Misery Chastain. O escritor sofre um acidente de carro e é socorrido por uma enfermeira; Annie Wilkes; que se diz fã número 1 do autor e suas obras, mas está totalmente desapontada com o final do último livro.
A enfermeira então aprisiona o escritor em um quarto e o tortura para que ele reescreva o final do livro, deixando ao seu gosto.
Curiosidades sobre as adaptações de
Misery para o teatro: em 2015,
Misery estreava na Broadway estrelada por ninguém menos que Bruce Willis. Já no Brasil, a adaptação para a obra de King teve no elenco Marisa Orth e Luiz Gustavo como protagonistas.
A casa
dos Budas Ditosos
João Ubaldo Ribeiro foi perspicaz ao produzir uma obra tão ímpar como
A casa dos Budas Ditosos, onde temos ‘apenas’ um relato da vida sexual de uma baiana de 68 anos, moradora do Rio de Janeiro.
A obra aborda todo o tabu em volta do sexo, das inúmeras possibilidades de relações sexuais e do prazer sexual. Mais intrigante ainda é ouvir esses relatos vindo de uma mulher - tendo em vista a sociedade machista que vivemos -, e percebermos o quanto somos hipócritas no que se diz a respeito dos costumes.
Nos palcos,
A casa dos Budas Ditosos virou um monólogo nas mãos de Domingos Oliveira e interpretado por Fernanda Torres, com mais de 17 anos de apresentação. Fernanda Torres recebeu um Prêmio Shell pela peça.
Eu Amarelo: Carolina Maria de Jesus
Quarto de Despejo -
Diário de Uma Favelada foi um fenômeno editorial na década de 60, chegando a vender mais de um milhão de livros em mais de 80 países.
A obra de Carolina Maria de Jesus nada mais é do que um relato diário da vida da autora, enquanto moradora da favela do Canindé, em São Paulo, e mãe de três filhos. A sensibilidade com que Carolina conta seus dias como catadora de papel e moradora da periferia é de arrepiar e mexer até com os corações mais frios.
Na adaptação cênica, os livros
Diário de Bitita e Casa de Alvenaria também tiveram elementos transportados para os palcos, para dar mais vivacidade à narrativa da vida de Carolina Maria de Jesus.
Os miseráveis
Um dos maiores clássicos da literatura, não poderia ficar de fora das artes cênicas. Publicado em 1862, por Victor Hugo,
Os Miseráveis
começou a ser escrito em 1846 e, em um único dia de venda, foram vendidos mais de 7 mil exemplares apenas na França.
Os Miseráveis conta a história de Jean Valjean, um jovem que foi preso por roubar um pão para o sustento de sua família. Esse é o ponto de partida para uma triste história de um homem que vai passar o resto de sua vida pagando pelo erro da juventude.
A obra de Victor Hugo ganhou inúmeras adaptações - não só teatrais - todas exaltando a importância e a sensibilidade da história. A saga se passa na França revolucionária do final do século XVIII e início do XIX, quando monarquistas e republicanos lutavam pelas ruas.
No universo teatral e da literatura não faltam peças e livros que se completam e prestam homenagens uns aos outros. Trouxe, por agora, nem a ponta do iceberg. Mas, dentre essas seis adaptações apresentadas, você teve a possibilidade de assistir alguma?
O teatro também sofre daquela injusta comparação que os filmes passam, quando o público descobre tratar-se de uma adaptação de livro,”o livro é muito melhor que o filme”, será que há uma discrepância?
Como será que autores e diretores lidam com essas adaptações e versões? E por falar em escritores, você já pensou em ter uma história sua interpretada nos palcos? Mas, para isso, você não deve ter dúvidas em publicar o seu livro, afinal, os diretores vão precisar que a sua publicação saia do papel.
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