Neste mesmo dia, 21 de junho, porém em 1839, nascia no Rio de Janeiro
José Maria Machado de Assis. É considerado por muito especialistas como o maior nome da literatura brasileira. Durante sua vida, percorreu praticamente todos os
gêneros literários:
romance, dramaturgia, poesia, crônica e conto. Hoje, dá nome a um dos principais prêmios literários do país, o
Prêmio Machado de Assis, oferecido pela Academia Brasileira de Letras.
Considerado o mestre da literatura brasileira, Machado de Assis deixou um legado literário que perdura até os dias atuais. Sua vida e obra continuam a inspirar gerações, tanto no Brasil quanto no mundo. Nascido no Rio de Janeiro em 1839, Machado de Assis é conhecido por sua escrita engenhosa e perspicaz, abordava temas sociais, psicológicos e filosóficos, revelando uma profunda compreensão da natureza humana.
Ao longo de sua carreira, ele produziu obras atemporais que exploram a complexidade das relações interpessoais e as nuances da sociedade.
Com romances célebres como "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis conquistou reconhecimento internacional e se firmou como uma das figuras mais influentes da literatura mundial. Sua escrita perspicaz e sua habilidade em tecer narrativas cativantes fazem dele um verdadeiro mestre do ofício literário, cujo impacto ressoa através dos séculos. Neste artigo, exploraremos a vida fascinante e a obra imortal de Machado de Assis, mergulhando no universo deslumbrante criado por esse ícone da literatura brasileira.
Esta capacidade de escrever e, com bastante destaque, pelos mais diversos gêneros literários - e também outras fortes características e feitos - nos norteará neste blogpost. Convido, portanto, você a fazer uma imersão literária comigo para aprendermos juntos sobre Machado de Assis. Vamos lá? =D
Biografia: quem foi Machado de Assis?
Machado de Assis, ou
Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu na capital do Império, em Pleno período Regencial, mais especificamente no Morro do Livramento. Navegou pelos mais diversos estilos literários. Foi romancista, cronista,
poeta, dramaturgo, folhetinista, contista, jornalista e crítico literário.
Infância
A sua infância foi simples, seu pai,
Francisco José de Assis, era pintor e sua mãe,
Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira. O pequeno Joaquim era filho de pai preto, de origem escrava e sua mãe, branca, descendente de portugueses. Por conta de sua origem pobre, mal frequentou a escola e nunca chegou a frequentar uma faculdade.
Apesar do pouco interesse no ensino escolar, tinha bastante empenho nas missas celebradas em igrejas próximas.
Então, conheceu o seu mentor de latim e grande amigo, o Padre Silveira Sarmento.
Quando tinha 10 anos de idade sua mãe Maria Leopoldina faleceu. Então, mudou-se com o seu pai para São Cristóvão. Rapidamente seu pai casou-se novamente, com Maria Inês da Silva. E foi ela quem cuidou do pequeno Joaquim quando seu pai faleceu, anos mais tarde. Nesta época, o garoto se interessou pelo aprendizado da língua francesa e tomava aulas com um padeiro imigrante. Fato este que reforça a tese de vários biógrafos que descrevem o garoto Machado de Assis como um precoce interessado nos livros.
Talvez um fato incomum para a época influenciou Machado de Assis na sua vida literária:
seus pais sabiam ler e escrever. Para a época e para a classe social em que viviam, este era um fato raro.
Fase adulta, relacionamentos e carreira literária
Os relatos da época levam a crer que
Machado de Assis trocou o subúrbio carioca pelo centro da cidade, em busca de sua subsistência. Todavia, buscou mais que a subsistência, estava disposto a subir socialmente na capital do Império. Para isso, buscava o convívio com pessoas "superiores intelectualmente" e, ao máximo, absorvendo a cultura da capital.
Esta vontade de fazer parte da parte nobre da população levou Machado de Assis a assumir alguns cargo públicos, onde passou pelo Ministério da Agricultura, das Obras Públicas e do Comércio.
Com o passar dos anos, passou a ter notoriedade com suas crônicas e poesias que eram publicadas nos jornais da cidade.
Em 1854, com apenas 15 anos,
publicou o seu primeiro soneto, que foi dedicado `à "Ilustríssima Senhora D.P.J.A" no Periódico dos Pobres (um jornal pouco popular do Rio de Janeiro com tiragem trissemanal).
O início da sua fase adulta de Machado de Assis foi marcada por publicações não muito populares - em relação aos seus grandes sucessos -, mas que mostravam a sua capacidade. Tanto é que aos 21 anos,
Machado já tinha relevância perante aos intelectuais cariocas. As portas foram se abrindo até que em 1860 ingressou no Diário do Rio de Janeiro como repórter e jornalista. Por lá, ficou até 1867.
E foi em 1867 que
Machado de Assis foi nomeado como diretor-assistente do Diário Oficial por Dom Pedro II. O garoto pobre, que não frequentou a faculdade, havia conquistado um espaço importante na sociedade, porém, mal sabia o tamanho do impacto que estaria causando na literatura brasileira.
Machado foi casado por décadas. Sua esposa era
Carolina Augusta, portuguesa, irmã do seu amigo Faustino Xavier de Novaes. Carolina chegou ao Rio de Janeiro provinda de Portugal. Dizem que ele veio ao Brasil para cuidar do seu irmão, que estava enfermo. Outras fontes dizem que ele veio ao Brasil para fugir de uma decepção amorosa. Era tida por muitos cariocas como atraente e simpática. Rapidamente conquistou o coração de Machado.
Carolina era 5 anos mais velha e, até aquele momento, Machado havia publicado um único livro,
Crisálidas (1864), composto por 29 poemas, aos 25 anos. Ficaram noivos contra a vontade de família e amigos de Carolina, tendo em vista que Machado era preto.
Todavia, em 12 de novembro de 1869, Carolina Augusta Xavier de Novaes e Joaquim Maria Machado de Assis se casaram.
"Carola", apelido carinhoso dado por Machado à sua esposa, teve papel fundamental no desenvolvimento de "Machadinho" (forma como ele assinava as cartas de amor) como escritor, contribuindo para a transição de sua narrativa convencional à realista. Além disso, conforme a sobrinha-bisneta de Carolina, Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, em uma entrevista de 2008, Carolina corrigia recorrentemente os textos do marido.
De acordo com muitos, o casal vivia uma vida conjugal perfeita por aproximadamente 35 anos. E esse amor foi interrompido em 20 de outubro de 1904, dia em que Carolina faleceu aos 70 anos. Não tiveram filhos.
Últimos anos de vida
Amigos próximos relatam que a morte de Carolina foi um baque muito grande na vida de Machado. Fator este que o trouxe a depressão profunda, contribuindo para a sua morte, em 1908. Durante esses anos entre a morte de sua morte e o seu falecimento,
Machado escreveu Carolina (1904), seu principal soneto.
Apesar da perda da esposa, Machado vivia uma pública com eventos da Academia Brasileira de Letras e demais confraternizações da elite intelectual da época. Mas, como era de se esperar, com menor frequência. Com o passar dos anos, sua saúde foi definhando até que no dia
29 de setembro de 1908, aos 69 anos, Machado de Assis morre em casa.
Curiosidades sobre Machado de Assis
Machado de Assis conviveu e foi amigo de
José de Alencar
e ambos recepcionaram o também importante
Castro Alves
(fato que ocorreu no mesmo ano em que Machado conheceu Carolina).
Em época, Machado disse sobre o poeta baiano:
"Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro".
E por ter deixado um enorme legado na nossa literatura, é de se esperar inúmeras curiosidades em torno do escritor. Confira algumas delas:
- Origem Humilde e Autodidata: Nascido no Rio de Janeiro em 1839, Machado de Assis veio de uma família humilde. Ele era
mulato, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira. Apesar de não ter uma educação formal, Machado tornou-se um autodidata, aprendendo a ler e escrever por conta própria.
- Superou Diversas Adversidades: Machado de Assis enfrentou muitas adversidades, incluindo problemas de saúde como epilepsia, e barreiras raciais e sociais devido à sua origem. Ainda assim, ele alcançou um status elevado na sociedade e na literatura brasileira.
- Fundador da Academia Brasileira de Letras: Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras em 1897, e o seu primeiro presidente, cargo que ocupou até a sua morte em 1908.
- Estilo Literário Inovador: Ele é conhecido por seu estilo literário inovador, com uso frequente de ironia, narrativas não-lineares e quebra da quarta parede, onde o narrador fala diretamente com o leitor.
- Principais Obras: Entre suas obras mais famosas estão "Dom Casmurro", "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "O Alienista". Estes romances são considerados pioneiros do realismo literário no Brasil.
- Influência Internacional: Embora tenha vivido toda a sua vida no Brasil e escrito em português, o trabalho de Machado de Assis atraiu atenção internacional e continua sendo estudado e traduzido em todo o mundo.
- Temas Recorrentes: Suas histórias frequentemente exploram temas como a natureza humana, a hipocrisia social, as relações de poder e o amor.
- Visão Filosófica: Machado de Assis também é conhecido por incorporar elementos filosóficos em suas obras, refletindo sobre questões existenciais e morais.
- Reconhecimento Póstumo: Apesar de ter sido reconhecido em vida, a verdadeira magnitude de seu talento e sua contribuição para a literatura só foi plenamente reconhecida após a sua morte.
- Influência na Literatura Brasileira: Machado de Assis é considerado um dos maiores, se não o maior, escritores da história da literatura brasileira, influenciando gerações de escritores e leitores.
A profundidade e a riqueza de suas obras continuam a fascinar e inspirar leitores ao redor do mundo, fazendo dele uma figura central na literatura brasileira.
Academia Brasileira de Letras
Em 1897,
Machado de Assis fundou junto a diversos amigos
- Ruy Barbosa, Olavo Bilac, Inglês de Souza dentre outros - a
Academia Brasileira de Letras (ABL), a partir da iniciativa, no ano anterior, de
Lúcio de Mendonça.
Tamanha é a importância de Machado de Assis para a nossa literatura, que até hoje é homenageado pelo principal prêmio literário Brasileiro, o
Prêmio Machado de Assis.
Principais obras:
Selecionar as principais obras de Machado de Assis não é uma tarefa fácil, tendo em vista o vasto repertório. Mesmo assim, podemos selecionar algumas criações que influenciam até hoje escritores e leitores.
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
Foi escrito inicialmente como um folhetim, de março a dezembro de 1881, na Revista Brasileira. Então, no ano seguinte foi transformado em livro. A obra teve boa repercussão na época, já que foi escrita na fase mais madura do autor, e por ter sido considerado
o livro de transição do romantismo para o realismo.
Quincas Borba (1891)
Escrito depois de
Memórias Póstumas de Brás Cubas e antes de
Dom Casmurro,
Quincas Borba é um dos três grandes romances da fase realista de Machado de Assis. O romance narra as desventuras do provinciano Rubião, herdeiro do filósofo incompreendido Quincas Borba, na capital do Império.
Dom Casmurro (1899)
Romance famoso pela relação de Bentinho e Capitu,
Dom Casmurro é até hoje um dos mais fascinantes estudos sobre traição. Críticos como Roberto Schwarz e Susan Sontag consideram este romance de Machado como um dos momentos mais altos da prosa ocidental do final do século XIX.
Soneto: Carolina
Escrito em homenagem à sua esposa, Carolina Augusta, momentos após a sua morte.
Manuel Bandeira
chegou a afirmar que
Carolina é uma das peças mais comoventes da literatura nacional. Segue o soneto abaixo:
"Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro...
Trago-te flores - restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;
que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos."
As obras de Machado de Assis
Por ser o maior nome da literatura natural, é de se esperar um extenso e rico "currículo literário" de Machado de Assis. Sua obra constitui-se de
duzentos contos, dez romances, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas.
Certo disso, listo abaixo as principais obras de Machado de Assis:
Romances:
- Ressurreição, (1872);
- A mão e a luva, (1874);
- Helena, (1876);
- Iaiá Garcia, (1878);
- Memórias Póstumas de Brás Cubas, (1881).
- Casa Velha, (1885);
- Quincas Borba, (1891);
- Dom Casmurro, (1899);
- Esaú e Jacó, (1904);
- Memorial de Aires (1908).
Contos:
- A Cartomante;
- Miss Dollar;
- O Alienista;
- Teoria do Medalhão;
- A Chinela Turca;
- Na Arca;
- D. Benedita;
- O Segredo do Bonzo;
- O Anel de Polícrates;
- O Empréstimo;
- A Sereníssima República;
- O Espelho;
- Um Capricho;
- Brincar com Fogo;
- Uma Visita de Alcibíades;
- Verba Testamentária;
- Noite de Almirante;
- Um Homem Célebre;
- Conto de Escola;
- Uns Braços;
- A Cartomante;
- O Enfermeiro;
- Trio em Lá Menor;
- O Caso da Vara;
- Missa do Galo;
- Almas Agradecidas;
- A Igreja do Diabo.
Coletânea de Contos:
- Contos Fluminenses, (1870);
- Histórias da Meia-Noite, (1873);
- Papéis Avulsos, (1882);
- Histórias sem Data, (1884);
- Várias Histórias, (1896);
- Páginas Recolhidas, (1899);
- Relíquias da Casa Velha, (1906).
Coletânea de poesias:
- Crisálidas, (1864);
- Falenas, (1870);
- Americanas, (1875);
- Ocidentais, (1880);
- Poesias Completas, (1901).
Traduções:
- Queda que as mulheres têm para os tolos, (1861).
Obras póstumas:
- Critica (1910);
- Outras Relíquias, contos (1921);
- A Semana, Crônica - 3 Vol. (1914, 1937);
- Páginas Escolhidas, Contos (1921);
- Novas Relíquias, Contos (1932);
- Crônicas (1937);
- Contos Fluminenses - 2º Vol. (1937);
- Crítica Literária (1937);
- Crítica Teatral (1937);
- Histórias Românticas (1937);
- Páginas Esquecidas (1939);
- Casa Velha (1944);
- Diálogos e Reflexões de um Relojoeiro (1956);
- Crônicas de Lélio (1958).
Conclusão
Concluindo, Machado de Assis não apenas moldou o panorama literário brasileiro com sua escrita inovadora e penetrante, mas também
transcendeu as barreiras de tempo e cultura. Seu legado vai além das histórias que escreveu; é uma jornada profunda pela psique humana e uma análise aguda das complexidades sociais.
Sua habilidade de transformar as idiossincrasias do comportamento humano em narrativas fascinantes e sua maestria em tecer ironia e crítica social em sua obra, fazem dele um ícone eterno na literatura mundial. Machado de Assis, com sua origem humilde e luta contra adversidades pessoais e sociais, é um
testemunho do poder transformador da literatura.
Ele não só inspirou gerações de escritores e leitores brasileiros, mas também se estabeleceu como uma voz universal, cujas obras continuam a ser relevantes, estudadas e admiradas em todo o mundo.
Em suma,
Machado de Assis é um gigante literário cuja influência perdura, um verdadeiro tesouro nacional e uma fonte inesgotável de inspiração e reflexão.