Juliano Loureiro • 25 de junho de 2020

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Poetisa, jornalista, pintora, musicista e professora. Não o bastante, ainda é considerada a maior poeta de todos os tempos, do Brasil. É claro que você já sabe que estamos falando de Cecília Benevides de Carvalho Meireles, não é mesmo?


Cecília Meireles foi a primeira mulher a se tornar referência na literatura brasileira e como toda homenagem ainda é pouca, eu contei um pouco sobre a sua história, na primeira parte da série sobre os maiores escritores brasileiros.


Não vou enrolar muito na apresentação, porque se Cecília, com 18 anos, já estava publicando sua primeira grande obra, significa que teremos uma grande viagem no tempo.


Fique agora, com mais um pouco da história dessa grande escritora brasileira!

A vida de Cecília Meireles

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Nascida em 07 de novembro, de 1901, no Rio de Janeiro, Cecília Meireles não teve um início de vida dos mais fáceis. 


Cecília não conheceu três irmãos que morreram ainda novos e nem seu pai, que veio a falecer três meses antes de seu nascimento. A autora ficou totalmente órfã com a morte da mãe, quando ela tinha apenas 3 anos.


Com toda essa tragédia familiar, Cecília foi criada pela avó portuguesa, uma senhora de costumes muito tradicionalistas que não permitia que a poeta, em plena infância, tivesse contato com outras crianças, fora do horário escolar.


Esse afastamento forçado, proporcionando uma infância um tanto quanto diferente, pode muito bem ter refletido na personalidade da autora. Cecília era uma pessoa que amava o silêncio, quase um estado de solitude. Bem, o fato é que se a criação da avó tornou Cecília uma pessoa mais “recatada”, digamos assim, pode ter influenciado a aproximação da futura poeta com a literatura.

Formação acadêmica

Apesar da infância bem conturbada, se a gente pensar numa criança crescer sem os pais, Cecília conseguiu ser uma aluna exemplar e dedicada aos estudos e a sua paixão pela escrita. Com apenas nove anos, ela já escrevia seus primeiros poemas e na escola era destaque acadêmico.


Para você ter uma ideia do quão estudiosa era Cecília, imagine só essa cena: o ano era 1910, a escola era a Estácio de Sá e a garotinha Cecília estava apenas terminando o primário. Mas ela era tão destacada que recebeu um prêmio. 


Obviamente, a Medalha de Ouro é um reconhecimento e tem toda aquela formalidade de entrega. E é aí que vem o tchan da história. 


O responsável pela entrega da Medalha à Cecília era ninguém menos que Olavo Bilac, o membro fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL), é muita moral, não é mesmo?!


E não para por aí! Esse foi apenas um dos primeiros contatos com grandes referências literárias. Eu já falei que Cecília “nasceu” muito cedo para a literatura, lá na introdução do nosso texto e, para mostrar mais dessa prematuridade: com 16 anos, Cecília Meireles já era professora diplomada. 


Seus tutores na formação? Basílio de Magalhães; um dos principais historiadores brasileiro; Alexina Magalhães Pinto; uma das principais escritoras na renovação da literatura infantil e o poeta Osório Duque-Estrada, ninguém menos que o autor do hino nacional brasileiro. 

A carreira literária de Cecília Meireles

Como você pode ter percebido, falar da biografia de Cecília Meireles é praticamente falar de toda a sua carreira literária. Infância e literatura cresceram juntas e a adolescência trouxe a maturidade para a poeta.


Se com 9 anos, Cecília Meireles já estava escrevendo seus primeiros poemas, não demoraria muito para que tivéssemos um livro publicado, não é mesmo? E foi o que aconteceu.


Espectros, o primeiro livro de Cecília Meireles foi publicado em 1919, quando a autora tinha seus 18 anos. Essa primeira obra é uma coletânea de 17 sonetos com a temática histórica, trazendo grandes personagens como Cleópatra e Joana D'Arc.


Um fato curioso sobre Espectros é que a sua tiragem inicial foi bem baixa, alguns historiadores acreditam que a própria autora tenha arcado com os custos à época. Com poucas obras físicas, o livro “desapareceu” das prateleiras, retomando somente em 2001, por meio da coletânea "Poesia Completa, Edição Centenário".


A jovem escritora casou-se cedo, em 1922, com 21 anos, com Fernando Correia Dias, um artista plástico português, com quem teve três filhas. A união foi muito proveitosa, não só afetivamente, para Cecília. Ela e o marido trabalharam juntos nas obras Criança, Meu Amor (1924) e Baladas para El-Rei (1925). Ela, obviamente, escrevendo e Fernando ilustrando.


Mas não foi só isso que o casamento proporcionou à Cecília. Essa união Brasil e Portugal colocou a poeta em contato com o Modernismo Português, do qual Correia Dias era um dos principais nomes, ao lado de Fernando Pessoa. Ainda no ano de 1922, Cecília Meireles participou da Semana de Arte Moderna (eu já citei a Semana, neste texto, quando eu falo sobre Mário Andrade). 


Em 1923, um fato curioso na carreira de Cecília. A poeta lança o livro Nunca Mais… E Poema dos Poemas. Uma obra com vinte e um poemas e seis sonetos. Porém, a pedido de autora, o livro foi retirado de sua biografia.


Já em 24, a publicação do seu primeiro livro infantil, o aqui já citado Criança, Meu Amor. Foi uma obra produzida para ser utilizada no ensino fundamental, com crônicas baseadas no humor, conselhos, fantasia e o imaginário infantil.


E já que estamos falando de livros aqui já citado, Baladas para El-Rei, de 1925, reunia os poemas feitos em 1922, mais precisamente nos meses de fevereiro e março. 


Cecília Meireles, como disse acima, se aproximou do movimento modernista português e, aqui no Brasil, não poderia ser diferente. Aliás, tem uma pequena diferença. Cecília juntou-se a uma corrente modernista intitulada Espiritualista.


Os membros dessa corrente se intitulavam como os verdadeiros modernistas. Suas obras tinham como temática o autoconhecimento humano, a existência espiritual da humanidade como uma única célula e valorização das virtudes necessárias para a evolução de todo o mundo.


As principais produções de Cecília Meireles nessa corrente estão na obra Provas da Existência dos Espíritos, uma coletânea que reúne também textos de Chico Xavier e Nietzsche. Outra produção de Cecília, nesta corrente espiritualista, é Cânticos, que foi publicada em 1981, após ter “ficado perdida” por décadas.


Ah! Vale dizer que a aproximação de Cecília com essa corrente aconteceu, principalmente, quando ela começou a contribuir textualmente com a revista Festa, no ano de 1927.


Vamos dar um salto até 1934, pois foi neste ano que Cecília Meireles cravou, de vez, o seu nome na literatura infantil. Cecília, nesse ano, atuava como diretora do Centro Infantil do Pavilhão Mourisco. Foi, então, que ela criou a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro.


Mais um salto, agora vamos para 1939, mais um ano de publicação marcante da autora. Nesse final da década de 30, Cecília publicou o livro Viagem, que lhe rendeu um prêmio da Academia Brasileira de Letras.


Outras obras que levaram o nome de Cecília ao mais alto patamar da literatura brasileira foram: O Romanceiro da Inconfidência de 1953 (para alguns, a sua mais importante obra), Poemas Escritos na Índia de 1962 e Ou Isto ou Aquilo de 64. Esta última trata-se de uma coletânea de poemas para crianças, apontada como a obra fundamental para a criação do gênero poesia infantil.

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Outras características sobre Cecília Meireles

Neste curto texto, consegui dar uma pincelada sobre a brilhante carreira de Cecília Meireles. Poderia passar dias e dias debruçado sobre suas obras, mas isso pode ficar para outro conteúdo, o que você acha?


Bem, antes de encerrar, vou pontuar algumas curiosidades:


  • Cecília foi traduzida para diversas línguas, como por exemplo: espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, húngaro, hindi e urdu.



  • O seu primeiro marido, Fernando Correia Dias, tinha depressão e se suicidou aos 42 anos, 13 anos após o casamento com Cecília.


  • Além de dar aulas no primário, com 16 anos, Cecília também lecionou no ensino superior como professora de literatura, na Universidade do Distrito Federal.


  • Cecília Meireles era uma ferrenha defensora da educação. Era a favor de se abolir o ensino religioso e defendia a implementação de turmas com ambos os gêneros.


  • É a única escritora a ser homenageada em cédulas nacionais. Entre os anos de 82 a 92, Cecília estampava as notas de 100 cruzados novos.


  • Em Portugal, Cecília é muito querida. Detinha o título de Sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura e na cidade de Lisboa e na região dos Açores, algumas ruas foram batizadas em sua homenagem.


  • Na Índia, era sócia honorária do Instituto Vasco da Gama, em Goa, e Doutora “honoris causa” na Universidade de Delhi.


  • No Chile recebeu o título de Oficial da Ordem do Mérito. Em Valparaíso, uma biblioteca foi batizada como Cecília Meireles.

Premiações

Além do Prêmio de Poesia Olavo Bilac concedido pela ABL, pelo livro "Viagem", Cecília Meireles foi premiada outras vezes:


  • Prêmio de Tradução/Teatro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 62;


  • Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro Poemas de Israel, outorgado pela Câmara Brasileira do Livro, em 63;


  • Prêmio Jabuti de poesia pelo livro “Solombra”, em 64 e;



  • Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, uma homenagem póstuma pelo conjunto de sua obra, em 65.

Principais obras de Cecília Meireles

  1. Espectros (1919);
  2. Nunca Mais… e Poema dos Poemas (1923);
  3. Baladas Para El-Rei (1925);
  4. Viagem (1925);
  5. Viagem (1939);
  6. Vaga Música (1942);
  7. Mar Absoluto (1945);
  8. Evocação Lírica de Lisboa (1948);
  9. Retrato Natural (1949);
  10. Doze Noturnos de Holanda (1952);
  11. Romanceiro da Inconfidência (1953);
  12. Pequeno Oratório de Santa Clara (1955);
  13. Pístóia, Cemitério Militar Brasileiro (1955);
  14. Poemas Escritos Na Índia (1962);
  15. Antologia Poética (1963);
  16. Ou Isto Ou Aquilo (1965) e;
  17. Escolha o Seu Sonho (1964).


Com certeza, ao chegar ao final dessa leitura, você deve pensar: Caramba! Que história de vida! E mesmo assim chegou onde chegou.”.


Realmente, não foi fácil para Cecília Meireles. Mas você viu que, desde cedo ela tinha gosto pela literatura, seja lendo ou escrevendo. E se você acha que isso não é para você, sinto lhe informar que você está enganado.

Juliano Loureiro; escritor, profissional de marketing e produtor de conteúdos literários.


Criei o Bingo em 2019 para compartilhar conteúdos literários com outros escritores, que também têm dúvidas sobre como escrever e publicar um livro. 


Já escrevi mais de 900 artigos, além de diversos e-books gratuitos. Na minha jornada literária, publiquei 6 livros, sendo 3 da série pós-apocalíptica "Corpos Amarelos".


Também sou criador do Pod Ler e Escrever, podcast literário com mais de 200 episódios publicados. 


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