Antônio Frederico de Castro Alves, ou simplesmente Castro Alves, infelizmente,
viveu somente 24 anos. Mas bastou esses anos para ele marcar o seu nome na história da literatura brasileira.
De um único livro lançado em vida, a nome de uma cidade, que tal descobrir o que fez com que Castro Alves, em uma vida tão breve, fosse tão relevante e um dos nossos mais importantes poetas?!
Hoje, o meu homenageado é esse escritor que esteve tão à frente do seu tempo e levantou causas sociais tão importantes que o tornou um embaixador da luta abolicionista.
Biografia de Castro Alves
Castro Alves nasceu no dia 14 de março de 1847. E aí, a primeira curiosidade: o poeta nasceu em uma pequena vila chamada Curralinho (Bahia), mas a partir de 1900, a vila mudou o nome e, homenageando o seu filho ilustre,
a vila cresceu e a cidade transformou-se em Castro Alves.
Vale aqui ressaltar que a localidade de nascimento de Castro Alves gera um pouco de divergência. Algumas fontes afirmam que o poeta nasceu no município baiano de Muritiba. Mas cá entre nós, é muito mais legal a história da vila de Curralinho, não é mesmo?!
Castro Alves era filho de Clélia Brasília da Silva Castro e Antônio José Alves. Seu pai era um médico muito respeitado, por isso, também exerceu o cargo de professor, na Faculdade de Medicina de Salvador. Por conta dessa última ocupação, a família Castro Alves foi obrigada a mudar-se para a capital baiana, por volta de 1853.
A mudança para Salvador foi muito benéfica para o poeta, pois ele pode estudar no Colégio de Abílio César Borges (que viria a ser o Colégio Barão de Macaúbas) e se
tornar amigo de ninguém menos que Rui Barbosa. Nesta época, Castro Alves já demonstrava sua paixão pela poesia e dava fortes indícios de que se tornaria o poeta que realmente se tornou.
Mas, como eu já adiantei na introdução do texto,
Castro Alves teve uma vida curta e, mesmo assim, o destino lhe pregou peças.
A primeira e uma das mais dolorosas foi a perda de sua mãe, quando ele tinha apenas 12 anos. Três anos mais tarde, seu pai casaria-se novamente e levaria a “nova” família para Recife.
E, mais uma vez, a mudança de cidade proporcionou um encontro com outro grande nome da literatura nacional. Castro Alves, em Recife, preparou-se para cursar direito. O ano era 1862, mas não foi na primeira tentativa que nosso poeta conseguiu a aprovação. Após duas tentativas, em 1864, finalmente Castro Alves é aprovado e, em 1865, ele cursa o primeiro ano na Faculdade de Direito, junto com Tobias Barreto.
Entre a mudança para o Recife e o seu ingresso no Direito, o ano de 1863 foi marcante para Castro Alves.
Foi nesse ano que conheceu Eugênia Câmara, uma atriz portuguesa, por quem se encantara e viria a ter um relacionamento anos depois e, também, foi o ano de publicação de seu primeiro poema
“A canção do africano”, que já trazia um forte posicionamento contrário à escravidão. Estava nascendo, nesse momento, o
Poeta dos escravos, a alcunha mais famosa de Castro Alves.
Antes de entrar na carreira literária de Castro Alves, a título de história, vale pontuar que o poeta perdeu o seu pai no ano de 1866, mesmo ano que engatou um relacionamento com Eugênia Câmara, que acabou sendo inspiração lírica para algumas obras de Castro Alves.
Carreira e estilo literário de Castro Alves
A mudança de sua família para Recife (1862) foi de suma importância para a carreira de Castro Alves. Mesmo já demonstrando uma veia artística, a chegada na capital pernambucana o colocou em contato com um forte movimento abolicionista e republicano.
Castro Alves não perdeu tempo e logo se inseriu nos gupos de discussão e esteve em contato com movimentos e lideranças. Participava ativamente, inclusive discursando e sendo ovacionado pelo seu posicionamento.
Nos primeiros anos, utilizou-se de seu talento para publicar poemas e poesias que endossavam seu discurso. Entre os textos produzidos à época, podemos destacar
“A Destruição de Jerusalém”, publicado no Jornal do Recife e o já citado
A canção do africano:
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão (...)
Os anos de faculdade de Castro Alves não foram dos mais tranquilos. Entre amores, poesias e a tuberculose, o poeta mais “matava” aula do que frequentava o curso. Entre as indas e vindas dos sintomas da tuberculose, publica
“Mocidade e Morte”.
Foi também nesse período de 1865 que Castro Alves escreveu os poemas que viriam fazer parte do livro
“Os Escravos”, sua principal obra, segundo alguns críticos. O ano de 1866 representaria uma guinada na vida do poeta. Como já disse, além do falecimento do seu pai, Castro Alves inicia um relacionamento com Eugênia Câmara e o casal parte para Salvador.
Mesmo perdendo um ano da faculdade, essa viagem foi importantíssima para a carreira de Castro Alves. Na capital baiana, Castro finalizou e apresentou seu drama em prosa
“Gonzaga ou a Revolução de Minas”, aclamado em sua estreia.
Dali, o casal só pararia no rompimento do relacionamento. De Salvador, foram ao encontro de
Machado de Assis, no Rio de Janeiro, em 1868. Do Rio, Castro Alves partiu para São Paulo, onde concluiu o Direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Nesse período em território paulista, Castro Alves dedicou-se aos poemas líricos e heróicos.
Todo esse movimento de Castro Alves deu notoriedade ao poeta de apenas 21 anos. Mas o ano de 1868 ainda separava alguns momentos marcantes.
É em 1868 que Castro e Eugênia se separam. Mas também é o ano em que Castro Alves apresenta uma de suas obras primas,
O navio negreiro:
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!”
(trecho de
O navio negreiro)
Apesar de ser um menino prodígio, Castro Alves teria apenas um livro editado em vida.
“Espumas Flutuantes” foi lançado em setembro de 1870.
O poeta viria a falecer em 6 de julho de 1871, vítima da tuberculose.
Castro Alves é considerado por muitos como o maior romancista brasileiro de todos os tempos. Fez parte da Terceira Geração do Romantismo Brasileiro e é patrono da cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras.
O lado social da poesia de Castro Alves
O título de
O Poeta dos Escravos
não é para menos!
Castro Alves era porta voz dos oprimidos, era um poeta sensível às mazelas sociais de uma sociedade escravocrata. Seus poemas gritavam por liberdade e escancararam o horror da escravidão.
Sua linguagem era repleta de antíteses, hipérboles e apóstrofes - que é a evocação de seres, reais ou não, que sugerem força e imensidão. Ou seja, contra os horrores da escravidão, Castro Alves evocava deuses e a natureza, pois só eles teriam magnitude para restaurar a dignidade da sociedade.
Esse estilo literário com declamações é conhecido como
condoreirismo e tem Castro Alves como principal nome brasileiro.
A poesia de amor de Castro Alves
Apesar de ser referenciado como um poeta das causas sociais, Castro Alves também teve uma grande relevância na poesia lírica e amorosa.
O poema amoroso de Castro Alves é dotado de uma sensualidade na descrição da beleza e do poder de sedução feminino. Porém, Castro Alves mantém uma certa racionalidade com relação ao amor, ao tratá-lo como uma experiência concreta, que proporciona não só o prazer, como também a dor.
Curiosidades sobre o poeta
Algumas passagens da vida de Castro Alves que não interferem diretamente na sua carreira literária, mas que valem à pena serem citadas para conhecimento dos leitores:
- Quando a família mudou-se para Salvador, instalaram-se em uma chácara que tinha uma senzala e um tronco para castigar escravos. Esse cenário marcou para sempre Castro Alves;
- O irmão de Castro Alves cometeu suicídio um mês antes do poeta ser aprovado na faculdade de Direito;
- O poeta alistou-se no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a Guerra do Paraguai;
- Castro Alves e Rui Barbosa fundaram uma “Sociedade abolicionista”;
- Durante uma caçada, em 1868, nos bosques da Lapa, um disparo acidental acerta seu pé esquerdo. O acidente leva à amputação do pé, sem anestesia;
- Apesar de falecer em 1871, a tuberculose já atacava o poeta desde 1864;
- Castro Alves era amigo de José de Alencar, que o apresentou a Machado de Assis, responsável por inserir Castro Alves nos meios literários. Os escritores se conheceram no Rio de Janeiro, em 1868.
Obras de Castro Alves
- A Canção do Africano;
- A Cachoeira de Paulo Afonso;
- A Cruz da Estrada;
- Adormecida;
- Amar e Ser Amado;
- Amemos! Dama Negra;
- As Duas Flores;
- Espumas Flutuantes;
- Hinos do Equador;
- Minhas Saudades;
- O "Adeus" de Teresa;
- O Coração;
- O Laço de Fita;
- O Navio Negreiro;
- Ode ao Dois de Julho;
- Os Anjos da Meia Noite;
- Vozes d'África.
Castro Alves tem uma história e tanto, não é mesmo?
Um jovem poeta com uma noção de luta social tão forte, exemplo para muitos de nós e aqueles que estão em uma posição de poder que a gente lamenta ter tido uma vida tão breve.
O que você achou dessa singela homenagem ao Poeta dos Escravos? O que você já sabia sobre ele ou o que faltou ser contado? Fale para mim nos comentários!
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