Eu já perdi as contas de quantas vezes afirmei que a literatura brasileira é muito rica. E é sempre um trabalho um tanto quanto injusto ficar enumerando os principais autores e obras, porque são tantos e por vezes, a gente acaba esquecendo de citar um ou outro. E não diferiria com relação aos poemas brasileiros mais importantes.
O
gênero lírico é aquele que mexe com nossas emoções mais íntimas, então, falar qual ou quais são os melhores é meio subjetivo. Por isso, antes de mais nada, quero deixar claro que aqui não se trata de uma lista definitiva, mas sim de alguns poemas brasileiros que devem, sim, ser do conhecimento dos amantes da poesia.
Escolhi os principais nomes da literatura nacional, nem sempre “somente” poetas, mas sempre autores e obras que, seja pelo momento histórico da escrita, pela estrutura da poesia, pelo sentimentalismo ou puramente pela repercussão, tornaram-se importantes para nossa literatura.
Então, chega de prosa e vamos de poesia!
Poemas brasileiros contando nossa rica história
A poesia brasileira é rica e diversificada, refletindo a complexidade cultural e social do país. Tem suas raízes nas tradições orais indígenas e na poesia trazida pelos colonizadores portugueses. No início, era fortemente influenciada pela literatura de Portugal, mas com o tempo, desenvolveu uma identidade própria.
Fases da poesia brasileira
Nossos poemas são influenciados conforme vivências e impactos culturais vividos pelos autores, com a forma, estética e inspirações mudando ao longo dos séculos.
Arcadismo
No século XVIII, surgiu o Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo. Os poetas dessa época, como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, buscavam uma volta à simplicidade e à natureza, em contraste com o Barroco anterior.
Romantismo
No século XIX, o Romantismo se tornou a corrente literária predominante. Poetas como Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves usaram a poesia para expressar emoções intensas, valorizar a natureza e a identidade nacional, e lutar contra a escravidão.
Parnasianismo e Simbolismo
No final do século XIX, o Parnasianismo trouxe uma reação ao Romantismo, com uma poesia mais voltada para a forma e a perfeição técnica. Olavo Bilac e Alberto de Oliveira são nomes notáveis desse período. Paralelamente, o Simbolismo, com autores como Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, explorava a musicalidade das palavras e temas metafísicos.
Modernismo
O Modernismo é um marco na literatura brasileira, iniciado com a Semana de Arte Moderna de 1922. Poetas como
Mário de Andrade e Oswald de Andrade romperam com as normas estéticas tradicionais e celebraram a cultura brasileira em todas as suas formas.
Manuel Bandeira e
Carlos Drummond de Andrade, apesar de não estarem diretamente associados ao evento da Semana de 22, são também grandes representantes da poesia modernista.
Concretismo e Pós-Modernismo
Na metade do século XX, o Concretismo, representado por poetas como Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, trouxe uma nova forma de fazer poesia, com ênfase na disposição visual das palavras. Depois, a poesia brasileira seguiu para o Pós-Modernismo, com poetas como
Ferreira Gullar, que misturavam formas poéticas tradicionais e contemporâneas.
Poetas contemporâneos
A poesia brasileira contemporânea é marcada pela diversidade, com poetas de diferentes regiões do país, múltiplas identidades e variadas estéticas.
Adélia Prado, Ana Cristina Cesar, Arnaldo Antunes e
Manoel de Barros são alguns dos nomes notáveis.
Poesia Marginal
Nos anos 70, surgiu a chamada "Poesia Marginal", que buscava uma linguagem mais coloquial e cotidiana, frequentemente publicada de forma independente. Poetas como Chacal e Cacaso são exemplos dessa tendência.
A poesia brasileira continua a evoluir, com novas vozes surgindo e explorando questões contemporâneas, identidade, política e a relação com a tradição literária do país. A internet e as redes sociais também desempenham um papel importante na divulgação e na experimentação poética.
Os 18 maiores poemas brasileiros
Listar os "poemas mais importantes" do Brasil pode ser subjetivo, pois a importância de um poema pode variar de acordo com critérios históricos, culturais, estéticos ou pessoais. No entanto, alguns poemas ganharam destaque na tradição literária brasileira e são frequentemente estudados e celebrados.
Aqui estão alguns deles:
1 - Soneto da Fidelidade, Vinícius de Moraes
Uma das principais obras de Vinicius, o
Soneto de Fidelidade é um dos preferidos dos corações apaixonados, é ou não é?
E o mais legal é que aqui, o
poetinha
Vinicius não promete aquele amor eterno, mas temos, sim, a promessa de que o amor será vivido em sua plenitude. O que acaba sendo mais intenso e proveitoso. Interpretações à parte, confira um trecho desse importante poema brasileiro:
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
(...)
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Um dos mais famosos poemas brasileiros tem na simplicidade dos seus versos a riqueza de significados. Afinal, a poesia tem dessas coisas, uma frase pode significar mil coisas ou, também, ser bem direta.
O mineiro Carlos Drummond “chocou” a crítica especializada com um “poema repetitivo”, “simplérrimo”. Mas que, até hoje, é referência literária, utilizado não só em textos, mas como também em outras artes, como charges e quadrinhos. Quem diria que uma simples pedra no caminho tornaria Drummond uma referência?
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas(...).
3 - Canção do Exílio, Gonçalves Dias
Gonçalves Dias criou essa obra literária, embasada no patriotismo quando estava em Coimbra, como o nome da própria poesia sugere, em exílio. O poema é um marco do início do romantismo brasileiro.
É impossível negar tamanha importância desse poema, ainda mais quando outros poetas, como o próprio Drummond citado acima, Casimiro de Abreu e Oswald de Andrade parafrasearam Dias.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.(...)
Curiosidade: reparou que, em
Canção do Exílio, há trechos do nosso hino?
“Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida, (no teu seio) mais amores”.
Sabe aquele momento em que tudo te desanima? Você não quer fazer nada, as coisas não estão tão boas e a única solução é pegar suas coisas e fugir? Foi em um momento desses que nasceu um dos mais importantes poemas brasileiro.
A primeira coisa que você precisa saber é que Pasárgada realmente existiu, não é um nenhum delírio lírico de Manuel Bandeira. Pasárgada foi a capital do Primeiro Império Persa. E segundo, o poema é bem direto mesmo, num anseio de fugir do presente ruim que vivia, Bandeira brandou que desejaria fugir para bem longe:
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente(...)
5 - Poema Sujo, Ferreira Gullar
Ferreira Gullar que nos desculpe, mas é impossível postar a sua obra-prima por inteira, neste post.
Poema Sujo é dos poemas brasileiros mais extensos, com mais de dois mil versos.
Uma poesia tão enorme só poderia ser uma coisa autobiográfica, afinal, além de sentimentos, o que mais os poetas conhecem que não a si próprios? Mas
Poema Sujo também é uma representação social e política dos anos 70, no Brasil.
(...) um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida (...)
6 - Saber Viver, Cora Carolina
Cora Coralina foi uma poetisa que, infelizmente, nos deu o ar da graça com seus poemas quando já tinha seus 76 anos. Mas, talvez, por isso sentimos em sua poesia uma sabedoria de vida de quem soube viver e aprender.
Sua lírica simplista nos fazer sentir acolhido, como se ela sentasse ao nosso lado e tivesse aquela conversa de avó e netos, contando a importância de saber compartilhar e viver a vida de maneira simples, porém honesta.
Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
(...)
Cecília Meireles é, talvez, a escritora brasileira mais intimista que conhecemos. Suas obras trazem sempre aquela sensação de que ela se transforma nas personagens e cria uma narrativa bem realística, como quem conta o que está acontecendo naquele exato momento, mas vendo de fora.
Retrato é mais uma dessas obras autobiográficas, que trata do tempo, dos sentimentos antagônicos do passado e presente.
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Mário Quintana é um dos poetas mais populares da nossa literatura, graças às simplicidades dos seus versos. Com isso, sua mensagem chegava - e ainda chega - a um público maior, não necessariamente aficionados por poesias.
Em
O tempo, Quintana traz uma reflexão sobre a passagem desse agente vital, daquilo que se aprende com as nossas experiências e o que perdemos com coisas supérfluas.
Uma curiosidade: o título original era
Seiscentos e Sessenta e Seis, um número icônico, que representa o número do mal (ou da besta, como consta na bíblia). Apesar dessa referência, na verdade, o título representava os números contidos no poema e que registravam a passagem do tempo.
(...)
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…
(...)
Uma das mais importantes obras da literatura brasileira, é uma bela poesia regionalista. Na verdade, é um livro inteiro em forma de poema que retrata a vida indigna de um retirante nordestino, em busca de um mínimo de dignidade para sua vida.
Severino tornou-se um ícone da nossa literatura, um legítimo representante do nosso Nordeste e a obra de João Cabral é um marco modernista.
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
(...)
Outros grandes poemas brasileiros
- "Navio Negreiro" -
Castro Alves: Uma vigorosa denúncia da escravidão, representativa da poesia social e abolicionista do poeta.
- "Profissão de Fé" - Olavo Bilac: Exemplifica a busca pela perfeição formal e a beleza estética do Parnasianismo.
- "Broquéis" - Cruz e Sousa: A obra inteira é considerada um marco do Simbolismo, com poemas que exploram temas espirituais e existenciais.
- "Pauliceia Desvairada" - Mário de Andrade: Uma das obras-chave da poesia modernista brasileira, que rompe com as formas tradicionais.
- "Os Sapos" - Manuel Bandeira: Famoso por ser recitado na Semana de Arte Moderna de 1922, é uma sátira ao parnasianismo.
- "Poema de Sete Faces" - Carlos Drummond de Andrade: Do livro "Alguma Poesia", é um dos poemas mais emblemáticos do autor, revelando sua visão de mundo e estilo único.
- "Plano-Piloto para Poesia Concreta" - Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos: Não é um único poema, mas um manifesto que define a poesia concreta.
- "A Máquina do Mundo" - Carlos Drummond de Andrade: Embora Drummond não seja um poeta marginal, este poema é contemporâneo ao movimento, sendo considerado um dos seus mais complexos e profundos.
- "Com Licença Poética" - Adélia Prado: Este poema reflete a essência da poesia de Prado, que combina o cotidiano com uma profunda espiritualidade.
Considerações sobre os poemas brasileiros
A poesia brasileira é um vasto oceano de expressividade, diversidade e riqueza cultural.
Ela reflete as várias faces do Brasil: suas lutas históricas, suas paisagens deslumbrantes, sua complexidade social e suas inúmeras identidades. Desde os versos saudosos do Romantismo que evocavam a exuberância da terra e a dor do exílio, passando pela precisão técnica do Parnasianismo e pela introspecção do Simbolismo, até o revolucionário Modernismo que redefiniu a linguagem poética e celebrou o espírito brasileiro em todas as suas formas.
O Modernismo, em particular, foi um divisor de águas, com a
Semana de Arte Moderna de 1922 servindo como o grito de
independência literária do Brasil, libertando a poesia das amarras da tradição e inaugurando uma era de experimentação e busca pela identidade nacional. A poesia concreta veio em seguida, desafiando as noções de como a poesia deveria ser visualmente apresentada e interpretada, enquanto a Poesia Marginal trazia a voz das ruas para o primeiro plano, com seu estilo direto e irreverente.
No cenário contemporâneo, a poesia brasileira continua a se transformar, absorvendo e reagindo às mudanças sociais e tecnológicas. Poetas contemporâneos, munidos das ferramentas digitais e das redes sociais, estão criando novos espaços de expressão e comunicação, garantindo que a poesia permaneça uma forma de arte vital e relevante.
Em suma,
a poesia brasileira é um espelho da alma do país, capturando suas contradições, suas belezas e seus desafios. É um registro vivo das experiências humanas em suas múltiplas formas, oferecendo não apenas um refúgio para a contemplação, mas também um instrumento de crítica e transformação social. Em cada verso, há a celebração do espírito indomável do povo brasileiro, uma homenagem à sua capacidade de criar beleza e significado, mesmo diante das adversidades mais difíceis.
Hoje, selecionei
APENAS 18 poemas brasileiros, de diversos poetas e poetisas diferentes. Como disse no início, é uma lista injusta porque muita gente ficou de fora e muitas obras de autores citados, também.
Mas isso é bom que abre espaço para uma discussão:
para você, quais os principais poemas da literatura brasileira? Conta para mim! Antes de ir, quero deixar um convite para você!
Que tal receber aprender mais sobre esse e os mais diversos temas literários? Conheça o canal Bingo - Conteúdos Literários, um canal para complementar os seus estudos literários. Por lá, dicas, resenhas, reviews, opiniões, em suma, é um canal aberto para conversas literárias. Aguardo você por lá.